GLÁUCIA LEMOS TOMA POSSE NA ACADEMIA DE LETRAS DA BAHIA
Com 30 anos de carreira literária, comemorados com um livro de poesias, a romancista passa a fazer parte da Academia de Letras, ocupando a cadeira 14.
Neste ano, quando completou três décadas dedicadas à literatura, a escritora Gláucia Lemos fez algo que, mais frequentemente, acontece com jovens: publicou um livro de poemas, bancado por ela mesma, pelo prazer de comemorar esse tempo e distribuí-lo aos amigos.
As comemorações devem continuar: no próximo dia 21, às 20 horas, na Academia de Letras da Bahia, ela será empossada comoa mais nova acadêmica da instituição, fundada em 1917.
A eleição foi no dia 29 de julho e, ao contrário do que acontece na Academia Brasileira de Letras, os escritores não se candidatam, mas são escolhidos pelos demais. Ela vai ocupar a cadeira 14, que foi de Epaminondas Costalima e cujo patrono é o Barão e Visconde de São Lourenço.
Com 34 livros publicados, entre contos, romances e literatura infantil, os prêmios ao longo da carreira, como o Cidade do Salvador, da Academia de Letras da Bahia em 1985, por seu primeiro romance, O riso da raposa, já marcam sua aproximação com a academia.
Reconhecimento
“Tomo a eleição como um reconhecimento ao meu trabalho”, diz ela, garantindo que não pediu voto a ninguém. Sua bibliografia já é um dado considerável: só o juvenil As aventuras do marujo verde ( Ed.Atual, 1990) teve três edições no ano de lançamento e, em 2009, já eram 23 edições e mais de 200 mil exemplares vendidos no País.
Um deles, contudo, o primeiro, Era uma vez uma rosa que virou mulher (contos, 1979), ela garante que reescreveria. “Minha literatura hoje é outra, mais madura”, considera.
O mais importante, para Gláucia, é não ter parado de escrever durante esses anos e ter mantido “o mesmo empenho em fazer o melhor possível”.
Daí que reescreve sempre que julga necessário e não parte para publicar um livro sem antes deixar que ele descanse um pouco na gaveta. “Quinze dias já dá para esfriar”.
Quanto ao livro comemorativo de poesias, Trilha de Ausências, ela pensa que talvez seja o único da sua já extensa bibliografia.
Não conta o bem-sucedido de poesia infantil, O cão azul, adotado em escolas e que já está em sua quinta edição.
A justificativa convence pouco: “Sei que sou boa prosadora, mas não sei se sou boa poetisa”.
Por mais que a modernidade tenha insistido em que o próprio artista deve ser seu primeiro crítico, quantos autores já condenaram textos ao limbo, por julgamentos tão severos, e algumas vezes equivocados?
Muito avó Gláucia Lemos faz parte de uma geração que foi criada quando não havia televisão nem internet.
Por nada diz a idade, mas afirma, com humor: “Já sou muito avó”. E ler, na infância, além de ter-lhe dado imaginação privilegiada, era também um lazer, sendo muito incentivada na prática por familiares e na escola.
Aos 14, numa dessas mágicas que só ocorre numa biblioteca, lhe cai um livro de Dostoievski à mão e ela lê sem parar Os irmãos Karamazov. Queria escrever como ele. “Só tinha 14 anos, era uma boba”, lembra, embora nunca tenha duvidado do seu vínculo com a literatura: “A palavra é o meu destino”.
A acadêmica Yeda Pessoa de Castro revelou estar feliz de ter mais uma mulher na Academia de Letras da Bahia. Dos 40 atuais, apenas sete são mulheres.
“Seu trabalho é admirável e está se firmando cada vez mais na literatura”, opina.
E mesmo que a literatura tenha sido seu destino, olhando para trás, Gláucia avalia: “Sempre foi a literatura, mas nunca sacrifiquei minha família por isso.
Mas também sempre lutei muito para que meu lado literário não ficasse sufocado”.
Adolescente, mandava seus contos para concursos no Jornal da Bahia, até que emplacou três, consecutivos. E pediram-lhe, delicadamente, que desse a vez aos outros. O acadêmico Carlos Edmundo da Rocha, que fazia parte do suplemento, quis conhecê-la e disselhe que a encaminharia para uma editora. Dito e feito. E foi assim que surgiu o hoje abjurado Era uma vez uma rosa que virou mulher.
Formada em Direito, com pós-graduação em crítica de arte, nada disso exerceu fascínio na escritora, que preferiu escrever para jornal e até lembra certa vez que viu uma das páginas de sua coluna rolando numa calçada.
“Fiquei muito aborrecida, me senti insultada, como se tivessem me batido”, diz ela, que para a literatura ou o jornal tem o mesmo método: “Escrevo com muito amor. Todo trabalho que vou fazer é sagrado, faço com o meu coração”.
O imortal Aramis Ribeiro Costa, que destaca o romance Bichos de conchas, saúda a nova acadêmica: “Gláucia tem se destacado com edições nacionais e como a Academia é uma casa, sobretudo, de escritores, ela vem formar com o grupo com absoluta qualidade e muito mérito por tudo que fez”.
Viúva há 14 anos, foi casada com o advogado e também jornalista Altamirando Leal, com quem teve cinco filhos. A mais velha, morreu aos 12, e com toda a experiência que se pode ter quando já se é “muito avó”, o reconhecimento: “Tive que sofrer isso, não há dor maior”.
Ainda assim, aspectos da vida pessoal não costumam ser retratados na sua obra. “Minha vida não vai conscientemente para os livros. Mas creio que a memória inconscientemente toca em alguma coisa”
PRINCIPAIS LIVROS DE GLÁUCIA LEMOS
BICHOS DE CONCHAS (romance) – Ed.Scortecci, 2008 – Prêmio do concurso de literatura O Melhor Livro, da União Brasileira de Escritores de São Paulo AS AVENTURAS DO MARUJO VERDE (juvenil) – Ed. Atual, 1990 – 23ª edição em 2009 AS CHAMAS DA MEMÓRIA (romance) – Editora BDA, 1996 – Prêmio Graciliano Ramos da União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro em 1991 O CÃO AZUL (Poesia infantil) Editora Saraiva/Formato, 1999, 4ª edição O RISO DA RAPOSA (romance) Ed. Bibliex, 1989 – Prêmio Cidade do Salvador da Academia de Letras da Bahia, em 1985 ESTRELA, ESTRELA MINHA (juvenil) Ed. do Brasil, 1991 – Prêmio da Secretaria de Cultura do Maranhão 1989
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